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27/02/2011

O Castigo...

Alguma coisa ocorria em relação aos meus sentimentos e não sabia bem o que poderia ser, afinal eu tinha quase treze anos e Yasmin tinha quase dez anos, porém ela aparentava em quase tudo ter a minha idade e em algumas coisas, parecia ainda mais velha. Por diversas vezes, fui chamado à atenção por realizar as minhas tarefas de qualquer jeito ou por não prestar a atenção que os anciãos mereciam enquanto me ensinavam. Isso estava incomodando tanto a mamãe quanto a papai e embora não me castigassem pela minha aparente displicência, estavam ficando visivelmente nervosos com o passar do tempo. Eu precisava me vigiar mais para não ser advertido e para não aborrecê-los.

Nosso romance tomava corpo junto aos nossos, mesmo porque ela havia sido prometida a mim, mesmo antes de nascer, assim como eu tinha sido prometido a ela. Todos o sabiam e todos respeitavam incondicionalmente os votos feitos por nossos pais, porém percebi que os anciãos estavam como que incumbidos de me fazer prestar mais atenção as minhas coisas, na verdade estavam me cobrando "responsabilidade". Por que eu tinha pouco tempo para assimilar tudo o que podia sobre magias, banhos, ervas, cristais, cores, oferendas, fases da Lua, entre outras coisas a que os ciganos se dedicam.


Quando completasse quatorze anos estaria mais voltado para outros tipos de aprendizado como; caça, pesca e abridor de caminhos, aquele cigano que em época de mudança de acampamento, vai a frente da caravana em busca de um lugar ideal para acampar. Restava-me, portanto, pouco tempo e muita coisa para aprender. Mas na verdade eu não me controlava, pensava mais e mais nela, a cada novo dia e não via a hora de estar com ela, às vezes, simplesmente por estar com ela. Se bem que muitas vezes, ficávamos trocando informações sobre o que tínhamos aprendido sobre os mistérios da natureza e de nosso povo. Bem, o certo é que qualquer motivo era bastante justo para estarmos juntos.


Nossos encontros a margem do riacho já não eram suficientes, e procurávamos vez por outra, ficar a sós em outro lugar, onde pudéssemos nos tocar e trocar carícias que não tínhamos coragem de trocar em frente a outras pessoas. Ainda hoje eu não entendo muito bem o por que, uma vez que o amor é conhecido de todos e todos passam por ele. Mas saímos muitas vezes sorrateiramente para nos abraçar e beijar e apertar o outro contra o peito, por longos e intermináveis instantes de pura magia.


Num desse dias, ao chegar no acampamento, fui severamente advertido por ter esquecido de dar comida aos animais que estavam sob a minha responsabilidade e num ímpeto de fúria, meu pai chegou a proibir de me encontrar com Yasmin até a próxima Lua cheia e acabáramos de sair de uma lua cheia, isso parecia uma eternidade e eu, não poderia concordar com tamanha injustiça.


Durante os três dias seguintes, executei rigorosamente todas as minhas tarefas e nas horas vagas pensava em uma maneira de fugir do acampamento, mas como iria fugir do acampamento e levar Yasmin comigo? Não poderia deixá-la e não sabia como poderia levá-la. Como iríamos caçar, pescar e sobreviver? Mas a idéia não me saía da cabeça e já articulava planos e mais planos para realizar a nossa fuga de forma que quando dessem por falta de nós, já estivéssemos do outro lado do mundo. Cheguei até a pensar em fugir, primeiro e depois voltar para buscar Yasmin. Bem, a verdade é que voei muito alto em minha imaginação e cheguei a criar planos incapazes de execução.


No final do terceiro dia papai me chamou e junto com mamãe e minha irmã, me fez prometer que eu teria mais atenção às minhas tarefas e, ao meu aprendizado e me libertou do castigo. Disse-me ainda, que iriam, ele e mamãe, conferir tudo o que eu realizasse antes de permitir que eu fosse ter com Yasmin.


Senti-me aliviado em não precisar por em prática nenhum dos meus planos de fuga.
No fim da tarde do dia seguinte, mamãe verificou tudo o que me dera por tarefa e me liberou para ir ao riacho.


Quando cheguei, Yasmin já esperava por mim e depois de um longo abraço, ela me perguntou:


— Hiago, você fugiria mesmo que tivesse que ser sozinho, para depois vir me buscar? Teria coragem de me deixar aqui lhe esperando? E se algo lhe acontecesse e você não pudesse mais voltar?


Neste momento, eu não conseguiria responder, só pensava em abraçá-la e tê-la junto a mim. Nada do que planejei, tinha mais valor e nada, nada mesmo valia mais a pena do que estar ali, junto a ela, abraçados, como se fossemos uma só pessoa... Uma só vida... Uma só alma...



Autor: Julio Roberto Santos
(Narrado pelo espírito de Hiago, o cigano)

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