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11/12/2010

A Premunição...

Outros dias se passaram e continuei a não entender a força que Yasmin apresentou ao ler meu coração, mas comecei a indagar dos anciãos e de todos com quem porventura conversava sobre as magias. Não desisti, porém não tive muito sucesso, mas me lembrei de um ensinamento de um dos anciãos que dizia que algumas vezes uma magia boa (benéfica), poderia demorar a acontecer por que as coisas externas influenciavam para essa demora e que um bom cigano, não poderia desistir jamais se queria ter sucesso em sua magia. Pensando nisso não desisti, mas resolvi esperar até uma outra oportunidade.

Enfrentava o meu dia a dia com muito vigor, sempre movido pelo que sentia por Yasmin, afinal não via a hora de me sentar com ela a beira do riacho para trocarmos as nossas impressões.

Um belo dia, depois de realizarmos as nossas tarefas rotineiras e de brincarmos um pouco com nossos amigos, me lavei rapidamente, como de costume e fui me sentar a beira do riacho para esperar por Yasmin. O tempo foi passando e Yasmin não apareceu. Resolvi voltar para o acampamento para descobrir o que acontecera e fui barrado à porta da barraca dos pais de Yasmin. Por mais que indagasse, nada me diziam, na verdade só entendi que alguém tinha tido uma visão e que alguns de nossos homens haviam saído para ajudar a alguém, mas nada fazia sentido. Revoltei-me!

Por que os adultos não me disseram o que acontecera a Yasmin? Será que ela estava doente? O que será que aconteceu de tão grave que ela não tinha ido ao meu encontro? Perguntas e mais perguntas, absolutamente sem resposta. Fui falar com mamãe para ver se ela sabia de alguma coisa.

Ao chegar em nossa barraca havia uma porção de gente à porta e dentro da barraca também. Infiltrei-me entre as pernas das pessoas e dei de frente com mamãe e lhe perguntei:

— Mamãe, você sabe o que está acontecendo com Yasmin? Por que há tanta gente na barraca dela? Aliás, mamãe por que há tanta gente aqui, também?

Muito calma e pausadamente, mamãe levantou o braço e todos imediatamente, se calaram e ela respondeu-me:

— Hiago, meu filho, Yasmin estava se arrumando em sua barraca e de repente ela levantou os dois braços e pediu a seu Pai, como que implorando:

— Papai, você precisa reunir alguns homens e descer rapidamente o riacho, depois que passarem por uma espécie de lago, na verdade é um lugar onde o riacho se alarga muito, haverá uma cachoeira e mais adiante o riacho deságua em um rio maior, bem mais largo que este riacho. Ali no entroncamento do rio há uma criança perdida de seus pais. Ela veio se segurando em um pedaço de madeira do barco onde estavam ela e seus pais, na outra parte do rio. O barco se chocou com uma árvore caída nas águas e se quebrou completamente, o pai e a mãe da criança se seguraram na árvore e se agarrando nela, chegaram a uma das margens do rio e a criança não teve tempo de se segurar na árvore e se segurou num pedaço do barco que depois de algum tempo rio abaixo estacionou no entroncamento do riacho com o rio, exatamente na outra margem onde se encontram os seus pais, a sua procura. O rio é muito largo e seus pais não terão como ver que a criança está na margem oposta. A criança está muito assustada e com muito medo, fria e com fome, os seus pais a procuram andando pela margem do rio, mas estão muito devagar e muito distante, pois procuram com cuidado. Já é tarde e vai anoitecer em breve e vocês vão encontrá-la depois do cair da noite, ela estará chorando, mas está bem. Vão andem logo, não percam tempo.

— E eles foram?

— O pai de Yasmin, não perdeu tempo, reuniu três homens, um deles é o seu pai e resolveu esperar um quarto homem que arrumava suas coisas. Yasmin, gritou de dentro da barraca: “— Não perca tempo, papai, não adianta esperar mais pessoas, por que só vejo quatro de nós chegando ao local!”.

— Seu pai, não esperou mais, saiu correndo e os outros três correram com ele. Foram direto para a curva que o riacho faz ali embaixo, perto daquelas pedras grandes que ficam a margem do riacho.

— Por isso, há muita gente na barraca dela, todos estão esperando por notícias e esperam também que Yasmin lhe digam que os nossos homens já encontraram o menino e que tudo está bem.

— Sim mamãe, eu entendi. Mas por que tem uma outra parte do acampamento aqui em nossa barraca?

Isso é uma outra estória que a mãe de minha mãe me contou e que ouviu da avó de sua mãe e esta ouviu de seus antepassados e vem passando de geração em geração na minha família há muito, muito tempo. Qualquer dia eu lhe conto e você vai entender tudo, está bem? Agora vá brincar e nos deixe aqui que todos estamos ansiosos conferindo os detalhes dessa estória para podermos entender e não errar.

Corri para a barraca de Yasmin, tentando falar com ela ou mesmo saber de alguém como ela estava e por lá fiquei.

Já era noite e de repente, alguém saiu da barraca gritando:

— Eles encontraram! Yasmin está dizendo que eles a encontraram e a criança está bem. Disse também, que agora os nossos homens já agasalharam a criança, estão dando de comer a ela e em seguida vão a procura dos pais. Seu pai vai ficar com a criança e os outros homens vão a procura dos pais dela. Pela manhã os pais serão encontrados e nossos homens os levarão até onde está o pai de Yasmin e a criança.

Foi uma das noites mais longas de minha vida até aquele dia. Não pude estar, ver ou falar com Yasmin e não consegui pregar o olho de ansiedade. Também não entendi como ele podia ver algo tão distante e como os nossos acreditavam cegamente no que ela lhes contava.

Amanheceu e nenhuma noticia vinda de fora. Surgiam informações tido como certas ao longo da noite, apregoadas a Yasmin, mas de fato nenhuma notícia.

Quando já nos preparávamos para o almoço, mamãe disse-me:

Eles estão vindo, eles estão há poucos minutos daqui. Já, já estarão entrando no acampamento. Sinto a presença de seu pai. Agora, não demora muito.

Nesse mesmo instante, uma nova notícia vinda da barraca de Yasmin, idêntica a de mamãe; "Os homens estão chegando!".

Não demorou muito e lá vinham eles, felizes e sorrindo muito. Verdadeiramente, muito contentes. Papai parou em nossa barraca, abraçou mamãe e lhe disse:

— Era verdade, detalhe por detalhe e o melhor da história você nem sabe. Yasmin narrou tudo antes que acontecesse, pois pelo que a família contou, o acidente com o barco aconteceu um pouco antes do sol se por e Yasmin contou o que viu no meio da tarde. Ela tem premunição! Premunição! Você sabe o que é isso? Pode realmente ser ela!

O resto do dia foi muito tumultuado e acabei por não ver Yasmin. À noite, a beira da fogueira houve muita festa e finalmente, vi Yasmin. Ela veio para junto de minha família, me deu um beijo no rosto e nada lhe perguntei e também nada foi dito, por que não havia nada a dizer.

Autor: Julio Roberto Santos
(Narrado pelo espírito de Hiago, o cigano)

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